quinta-feira, 2 de abril de 2009

O que está errado? - Por Léo Vilas Verde

"Superfantasticamente, a polícia atrás da gente com a arma na mão. Sempre nessa brincadeira me chamam pra fazer o papel de ladrão. Sou feliz, com um revólver apontado pro nariz. Também quero viajar de camburão".

Desde a semana passada quando recebi um e-mail cujo conteúdo era um texto de Luiz Lasserre (editor de Segurança do Jornal A Tarde) tratando das mortes por violência da juventude da Cidade de Salvador venho dedicando momentos de minha vida para refletir sobra a questão. Inclusive, na última sexta-feira levei esse debate para os jovens com os quais trabalho no Projeto Agentes de Comunicação para o Desenvolvimento, realizado pela Cipó Comunicação Interativa no Subúrbio Ferroviário de Salvador. Até então, estava no lugar de fala daqueles que refletem, analisam e, de certa forma, procuram soluções para o problema. Entretanto, eis que me vejo imerso nele.

Na noite do último dia 31 de março, estava eu com um amigo em Fazenda Coutos conversando sobre coisas que compartilhamos na vida quando recebi uma ligação no celular. O interlocutor do outro lado era meu pai, com uma voz quase desesperadora tentando me dizer, entre outras coisas, que meu irmão fora ameaçado com uma arma de fogo apontada para sua cabeça.

No momento, minha reação foi a mesma de sempre: perguntar por detalhes do ocorrido e tentar tranqüilizar a situação. Mas, daí em diante não consegui escutar uma palavra sequer do que meu amigo falava. Entrei em estado de total anestesia por muitos minutos. De repente me perguntava sobre o que estava acontecendo: eu, altas horas da noite em Fazenda Coutos - considerado um dos bairros mais perigosos de Salvador - vendo aqueles jovens consumindo suas drogas sem me dizer qualquer coisa via o problema da violência bem próximo.

O fato tinha ocorrido em Plataforma, bairro em que nasci e que até hoje vivo. O algoz é o, infelizmente, irmão de minha mãe: policial militar aposentado. A vítima, meu irmão, por conseguinte, sobrinho do algoz. O motivo: não declarado.

Perguntava-me, então, onde reside o problema? Na cultura da violência que toma nossos lares todos os dias por volta das doze horas, patrocinada por programas de televisão? Na esculhambação que é o processo jurídico nesse país? Na estrutura corrompida que é nosso aparato policial desde sua base até o seu alto comando? No tráfico de drogas que invade todos os bairros, mas que mantém refém apenas as regiões mais pobres da cidade? Na letargia que tomou grande parte da sociedade que assiste inerte a tantas barbaridades? Nos defensores dos Direitos Humanos que se vêem coagidos diante da grande campanha contra eles que é realizada por setores da imprensa?

Por um momento, senti raiva. Lembrei-me então das inúmeras vezes em que, palestrando sobre os Direitos Humanos, escutei a célebre frase: você diz isso porque nunca aconteceu com você nem com alguém de sua família. Pois é, agora aconteceu comigo e com minha família. E eu senti raiva. Sentindo raiva, também me senti fraco. Mas, agora eu sei que não perdi essa luta e me vejo reconhecido e revigorado nela. Reencontrei minha identidade:

Eu sou Leo Vilas Verde, defensor incondicional dos Direitos Humanos, com absoluta prioridade para os Direitos Humanos de Crianças Adolescentes e Jovens e com especial atenção para os Direitos Humanos da população negra e daqueles que sofrem pelo preconceito: pessoas com deficiência, mulheres, gays e praticantes das religiões de origem africana.

2 comentários:

Giulia disse...

Filha, dê meus cumprimentos a este rapaz, a esta centelha desta nossa sociedade falida, ironicamente fantasiada em carnaval e cores. Diz a ele que tomo sua mão na minha e choro. Choro de desespero e pena... Pena por não ter conseguido fazer nada por ele, pelo irmão dele, e sobretudo pelo tio, que necessitaria muito mais ajuda do que todos nós, choro por todos os tios de todos os Leos Vilas Verde do nosso país....

Bruna Hercog disse...

Choramos todos juntos...mamys...