domingo, 23 de maio de 2010

Das cores de Teresa













De manhã bem cedo, a camareira preparou o quarto e saiu. Do lado de fora, uma intensidade de cores movimentava o seu mundo. Do lado de dentro, apenas um quarto com uma cama, um frigobar, dois travesseiros e uma televisão. Preferia estar fora, era mais emocionante. A camareira tinha nome. Teresa era como se chamava. Todos os dias, no mesmo horário cumpria a sua rotina. Mas, não tinha como escapar da intensidade das cores que insistia em ofuscar a sua vida e movimentá-la como nunca antes havia sido movimentada.

Teresa era uma mulher alta, elegante e vazia. Seus olhos choravam tristeza e abandono. Seu sorriso pedia carinho. Ela era feliz. Dentro do quarto arrumado tudo era diferente. Mas, quando saía, o seu mundo ganhava novas texturas. Ela amava o azul. Era a cor que fazia todo o seu corpo vibrar. Buscava no azul a perfeição do universo. Suas meias eram azuis. Suas saias de um azul mais claro. Seu coração de um tom cinzento-azulado. E Teresa seguia a vida...

Um dia, o quarto não foi arrumado. Os lençóis estavam espalhados pelo chão. A TV ligada. Teresa não havia passado por alí. Onde estava? Do lado de fora, um dia incolor se apresentava. Nada de azul. Nada de cor alguma. Um dia sereno e incolor, impressionantemente incolor. De repente, Teresa desceu as escadas, nua, completamente nua. Trazia no seu corpo uma combinação vibrante de todas as cores. Todas as cores engoliram Teresa, que apenas sorria, serena, como o dia incolor.


Ilustração: Vânia Medeiros

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