quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Asco da sorte: inseto

Nasceu inseto. Um inseto danado de feio. Daqueles bem nojentos, com antenas finas e cheiro de chuva. Asqueroso. Nasceu para assustar. Sabia de sua sina e levava isso numa boa. Sua casca mudava de cor. Era o seu único charme. E funcionava. Tinha dias que acordava um inseto-asqueroso-amarelo. Já na manhã seguinte, era um asqueroso-azul. Seguia brincando com as suas cores cascudas. Até ganhava uns amigos por onde passava. No mundo dos bichos minúsculos, era tido como um ser raro. O que chegava a ser uma vantagem, pois o danado era respeitado por isso. No mundo das  crianças era visto com curiosidade. Queriam pegá-lo, tocar a sua casca nojenta e se divertir com o seu cheiro de chuva. No mundo dos adultos, era o inseto da sorte. Diziam que a sua presença era sinal de bons presságios. Mas, assustava mesmo assim. Causava gritinhos de horror nas moças e ímpeto assassino nos rapazes. Apenas, passava. Às vezes nem se dava ao trabalho de voar, contentava-se em rastejar de mansinho pelos cantos.  Sabia dos seus limites e brincava com eles. Sabia do seu cheiro e se encantava com ele. Sabia que era raro. Sabia, também, que trazia sorte. Por isso, seguia sua vida-inseto sem ser incomodado. E assim ia até a próxima pisada. Esmagado, buscava novas cores e texturas para as suas cascas, recompunha-se e voltava a circular. Sozinho. Inseto. Da sorte.

Ilustração:Vânia Medeiros
(www.flickr.com/photos/vania_medeiros)

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