quinta-feira, 6 de junho de 2013

Pela fresta de Eva

Uma pequena fresta na janela de Eva estava aberta. Era pequenina e, por ela, passava um raio denso e cheiroso de luz. Uma luz bem brilhante. As cores, dependiam dos olhos de quem o via. Olhos brincantes veriam, talvez, um raio de luz amarelo-alaranjado-rosa-azulado. Olhos serenos veriam uma luz quase transparente. Olhos sisudos talvez não vissem o raio de luz. Talvez não vissem nem a fresta aberta na janela de Eva. Olhos infantes veriam não um raio, mas um feixe inteiro: luzes de vários sabores. Os olhos de Eva, no entanto, não estavam acostumados a enxergar frestas. As do cotidiano passavam apressadas demais, imersas em rotinas densas e cheias de preocupações. As frestas do afeto, deixavam marcas, mas não tinham, talvez, a textura certa para que pudessem ser vistas. As frestas da saudade, essas eram bem inquietantes, mas, da mesma forma, invisíveis. Acontece que aquela pequenina fresta na sua janela, por onde, sem que ela pudesse ter controle algum, entrou o raio de luz, não pediu para ser vista, não tinha categoria, nem explicação. Não havia definições para ela. É fresta. É luz. É Eva. E ponto.

Nenhum comentário: