quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Alguém

Virgínia refletia a luz do sol. A pele, alva como os seus pensamentos, refletia todos os raios que passavam por seu corpo. Porém, por dentro, onde a pele alva dava lugar às veias pulsantes, ela era confusão e medo. Tinha dedos que dedilhavam cuidadosamente o mundo e sabiam como acariciar os corações mais entristecidos. Tinha um sorriso capaz de sacolejar emoções escondidas. Porém, a pele alva continuava a refletir os raios de sol.

Virgínia falava baixinho. Tinha uma voz doce e poderosa. Olhava nos olhos ao falar com alguém e exigia que a olhassem bem fundo. Ela não tinha medo do encontro de almas. Mas, sabia que assustava. Virgínia era filha do vento. Foi parida no meio de uma turbulência de cores e sons. Saiu intacta no meio da grande tempestade. Não sabia a origem do seu nome. Não sabia o sentido da carga genética que carregava nas entranhas. Mas, estava segura que era filha do vento. Ele soprava suave no seu ouvido todas as manhãs. E durante o sono, ganhava corpo de sonho e a levava para passear nas histórias mais deliciosas. Enquanto dormia, o pai-vento a levava para conhecer florestas distantes, homens gentis, frutos suculentos, mares tranquilos. Enquanto dormia, o pai-vento acariciava sua testa, passeava por seu sexo, ninava os seus medos mais profundos.

Virgínia era feita de luz. E caminhava como se carregasse essa luz coberta por um espesso véu amarelo. Quando, no seu caminho, encontrava alguém que julgava merecedor de partilhar sua luz, ela, delicadamente, levantava uma ponta do véu.

- Ei, psiu. Você. Olha! - dizia, docemente, a linda e alva mulher.

Pela resposta, ela saberia se tratava-se de alguém-passagem, ou alguém-presença.

E continuaria a refletir, na pele, os raios de sol.

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