quinta-feira, 8 de março de 2012

Choro do céu, mulher.

Hoje não amanheceu um dia de sol. Nem sinal daquele calor sufocante que pairou nos dias anteriores. Um dia sereno. Com chuva. Com choro do céu. Gotas leves que, ao tocarem a minha pele, lembram-me: mulher, hoje é seu dia. Deixo-as cair por todo meu corpo, enquanto caminho. Sem pressa. Sem meta. Sem medo. Apenas, caminho. As ondas do mar estão silenciosas. Movimentam-se com graça e seriedade. As cores do dia são um presente. Mas, lembram que é um dia de beleza e dor.

Caminho e escuto dentro das minhas lembranças as vozes das mulheres-meninas migrantes que ainda sonham. Enquanto são violentadas diariamente, de todas as formas. Mas, sonham, e por isso vivem, sobrevivem. Lutam. Escuto as mulheres guerreiras que em cima de palafitas equilibraram vidas, filhos, dores e dias que passavam arrastados. Violentadas, diariamente, de todas as formas. Mas, sonham. E, por isso, vivem, sobrevivem. Lutam.

De dentro das minhas lembranças, escuto a saudade, o tempo, as respostas.
E com elas, com todas as minhas lembranças, continuo a caminhar.
Agradeço. Agradeço a cada retalho que forma a minha colcha.

E sonho.
E, por isso, vivo.
E, por isso, luto.

Um comentário:

Giulia disse...

E é por viver, sobreviver, lutar que voce colore e embeleza cada vez mais tua colcha de retalhos!