Da série: é por essas e outras que continuo a acreditar que um outro mundo é possível.
Sinaleira fechada.
- Me dá uma moedinha pra inteirar o almoço?
- Pô amiguinho, não tem moeda, mas tem uma moqueca de camarão quentinha que sobrou do nosso almoço. Você quer?
O moço de sorriso largo e encantador - apesar dos dentes marcados pela podridão da sua condição de pedinte - franziu a testa, moveu os lábios de um lado a outro e disse:
- Não.
- Não???, estranhamos.
- É claro que eu quero!!!, exclamou brincalhão.
Quentinha entregue. O moço pergunta:
- O que é mais doce: mel ou açúcar?
- Mel, respondemos.
- E o que é mais doce que o mel e o açúcar?
- Não sabemos.
- Vocês!!!, disse saltitante o moço de dentes apodrecidos e coração resistente a tantas manchas e podridões diárias. E correu, antes que o motorista do carro ao lado passasse por cima dele. O sinal estava verde.
Atenção: trata-se de um diálogo real, sem adornos poéticos.
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