sábado, 26 de janeiro de 2013

Fecha-dura, dura-se-fecha

Havia uma fechadura emperrada. Era uma fechadura pequena. Chave, só a mais miúda do molho para entrar alí. Era, realmente, bem estreita. Talvez a fechadura mais estreita que já vira na vida. A vontade mesmo era de arrombar de uma vez por todas aquela porta maldita. Mas, não. Tinha bons costumes e não poderia cometer ato tão violento. Respirou uma, duas, dez vezes e a vontade de arrombar com um chute aquela porta permanecia. Começou a inspirar: uma, duas, dúzias, centenas de vezes. Tudo bem. Passou a vontade de arrombar a porta. Mas, continuava querendo abrir aquela fechadura. Resolveu sentar no meio-fio. Sentou-se. Cabeça sob os joelhos dobrados e olhos bem fechados. Passou a imaginar o que estaria por detrás daquela porta de fechadura emperrada. Tantas cenas apareceram flutuantes sobre as teias da tua imaginação. Momentos felizes, sustos, pessoas de roupas coloridas, banhos de mar, sorrisos azuis, lágrimas. Crianças correndo. Adultos zangados. Rotinas engraçadas. Bombons de chocolate. Tudo passava numa velocidade impressionante. Tentava agarrar as imagens, mas elas saltitavam apressadas. E, depois, tudo virava pó e olhos abertos. Ainda tonta, com tantas imagens a 200km por hora tramitando em sua mente, levantou suavemente e se viu de costas para a porta. Não teve mais vontade de mexer naquela fechadura emperrada e tampouco de buscar a chave miúda. Seguiu, ainda tonta, ainda tanto. Sempre em frente...

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