quarta-feira, 23 de janeiro de 2013



Na esquina da casa de Clara tinha um jardim. Todas as manhãs, antes de sair para trabalhar, Clara descia, ia até o jardim e conversava com uma rosa amarela. Sua mais doce - e, talvez, única - confidente. A rosa crescia. Clara também. Já não era tão jovem assim, mas quando conversava com a rosa, virava a mesma menininha de alguns anos atrás. Estava sempre em transformação. O jardim também. As estações iam dando cores e formas diferentes a ele, porém estava alí, sempre no mesmo lugar, na porta da casa de Clara.

Um dia, Clara decidiu não ir trabalhar. Inventou uma desculpa qualquer e se deu - talvez pela primeira vez na vida - o direito de dizer não ao trabalho, às tarefas, às obrigações. Escolheu o vestido mais bonito e foi correndo até o jardim. Quando chegou lá, notou algo diferente. As flores estavam confusas. A sua rosa-amarela-confidente estava murcha, sem vida, até o amarelo parecia um tanto quanto desbotado. O jardim já não era o mesmo. Clara não conseguia entender o que estava acontecendo. Olhava para um lado, olhava para o outro e se sentia perdida...

Até que notou alguém puxando a barra do seu vestido. Olhou para baixo e um menininho de no máximo uns cinco anos sorriu para ela e disse: "Tia, tá vendo aquela rosa alí? Alguém falou coisas tristes para ela. E ela acreditou". Os olhos de Clara marejaram e em meio a uma emoção sem nome e uma esperança incrível, ela segurou o garoto pela mão e disse saltitante: "vamos, venha comigo, vamos fazer esta rosa feliz de novo!!!". Os dois se emaranharam pelo jardim e, sorridentes, beijaram, acariciaram e falaram no pé do ouvido (?) da rosa. De repente, todo o jardim era de novo festa. As cores estavam brilhantes. Clara e o garotinho se despediram. Mudaram os ventos. O garotinho seguiu. Clara voltou para casa e tirou o vestido bonito.







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